quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Entrevista Clarah Averbuck

As mulheres da nova geração de literatura brasileira carregam nos braços o estereótipo de força. No universo de young e roque santeiro, Clarah Averbuck carrega um coração. A vida e a arte é o caminho dessa nem tão, garota de 28 anos.

Clarah Averbuck nasceu em Porto Alegre e é radicada em São Paulo. Anda por essas ruas usando a vida de matéria prima para Camila Chiviro, seu alter-ego, que virou Camila Lopes no filme "nome próprio" de Murilo Salles.

Algumas pessoas param na janela da sua própria fortaleza se defendendo da aproximação de qualquer espécie que não demonstre muita fraqueza. Alma não é problema com a vida. Alma não é um caminhão de dúvidas. Tino é certeza de que não importa por onde ande, a vida se encarrega de fazer o resto.

Essa mulher parece escrever segurando a mão de uns velhos e o coração na mesa.

Por caminhos diferentes. Ela cursou jornalismo e letras, não passou de um ano em nenhum dos cursos, e é escritora por vocação. No Brasil, coragem é primordial em qualquer carreira que use letras. Usando dessa coragem, Clarah Averbuck sobe pelas ruas dessa cidade e segue pela reta das linhas.

Nessa entrevista, ela não respondeu tudo e, não entendeu a pergunta: para você o que justifica a literatura? Devolveu com “desde quando arte se justifica?”. Desde quando Charles Bukowski usou: "a diferença entre a Arte e a Vida é que a Arte é mais suportável".

O resto fica nas respostas das próximas linhas.


Clarah, quando Abujamra, no prefácio do Máquina de Pinball, diz que você está condenada a ser livre sartreanamente isso nos dá a pista maior da sua obra, de ser aquela dona dos seus atos agüentando as conseqüências, sejam elas quais forem. Quando você escreveu o livro, tinha um mote realmente pré-determinado?
Eu estava tentando me encontrar. Não sou dessas que têm nada pré-determinado. Eu vou indo. Eu só sabia que queria escrever. O resto é a minha índole.

Você enxerga uma dose de incoerência no que escreve e no “rock'n'roll way of life”. Ainda é possível virar noites, passar dias acordada. Com a Catarina o processo mudou?
Eu tenho uma semana de hedonismo e uma semana de Catarina. Ela fica uma comigo e uma com o pai. Eu não mudaria minha vida completamente por nada porque ia acabar jogando as frustrações nela e em todo mundo em volta. Eu sou a mãe que dá pra ser.


Seus personagens são construídos de extremos. Você acha que atingiu algum extremo na vida? Você chegou no fundo e voltou?
Eu vou até a beirada, não até o fundo. Ou talvez tenha até ido, dizem que às vezes tem mola no fundo. Eu sou uma pessoa de extremos, mas não dos extremos burros e sem volta. É simplesmente o jeito que eu sei fazer as coisas.

A pessoalidade é marca registrada sua, nessa questão de vida e obra andarem juntas, como é agüentar todo um mundo de pitacos sobre sua vida?
Ignoro. Às vezes eu me irrito, assumo, mas depois de sete anos de exposição, ou você se acostuma e ignora ou você muda de profissão. E como eu sei que ninguém sabe nada da minha vida além de mim e dos meus, ignoro.

Adaptação pode mudar completamente a essência do texto e continuar carregando seu nome. O nome próprio foi adaptado, teve aquela peça que você não gosta de lembrar, e vai ser adaptado em BH de novo. Como você lida com as mãos dos outros no seu trabalho?
Eu torço para que fique bom. Eu acho assim: depois que a obra está parida, ela não pertence mais só ao autor. Claro que não permitiria nada de absurdo, mas acredito em dar
liberdade a quem está adaptando para que a pessoa insira a sua verdade ali. A minha verdade está nos livros. O resto não é só meu.

O que você sente que falta fazer e o que não faria de jeito nenhum?
Sinto falta de morar fora do Brasil, mas agora não penso em sair daqui porque sinto coisas boas chegando. Sobre o que eu não faria, teria que receber a proposta para poder pensar no
não.

O que São Paulo te deu e o que te tirou de importante?
Não me tirou nada. Me deu a minha vida adulta. Eu sou paulistana de coração.

Você recomeçaria a sua vida em um outro lugar?
Já quis morar em Los Angeles e em NY. Era só me dar um visto e convencer o pai da minha filha que eu ia. Mas no momento estou ótima aqui. Finalmente me encontrei com um povo.


Você vive somente de escrever, e escrever somente o que gosta?
Se eu vivesse de escrever só o que gosto, ia viver de blog e morrer de fome. Eu faço que pinta e o que não fere muito.

Você sempre disse que sente demais. Escreve, bebe, vive, pensa. Faz tudo no demais. O que é demais para você hoje?
O tempo que estão demorando para arrumar meu banheiro. Tempo demais.


Você escreve pra viver, vive para escrever, ou depois desses anos, escrever tem um significado novo?
Eu escrevo porque gosto e preciso. Algumas vezes faço coisas que não gosto tanto, mas a recompensa vem depois. Escrever é a forma que eu me comunico melhor, sempre foi. Tento tirar disso o que posso.

Você escreveria um livro por encomenda? Com prazo e tema pré-definido.
Depende do prazo e depende do tema. Mas não vejo problema nenhum nisso.

Tem autores que consideram que sua própria obra amadureceu, que o primeiro não é bom o suficiente, alguma coisa na sua obra te incomoda?
Acho que ele foi como tinha que ser. É um retrato de uma época minha, seis meses em um momento mais extremo do que os outros e de transição. Algumas coisas me incomodam, mas aquilo era o que eu podia fazer no momento. Mas acho que é normal, ao longo da vida, passar por isso.

Escritor bom é escritor bêbado?
Quem sou eu pra dizer o que o cara tem que tomar? Tem gente que toma café. Tem gente que toma água da torneira. Cadum, cadum. Entorpecimento não é critério.


Entrevista: Suellen Santana
Colaboração: Carla Castelotti

Blog da escritora

Um comentário:

Toad - Matheus H. disse...

Conheço pouco da escritora, confesso.
Mas a frase "Entorpecimento não é critério." me passou uma idéia de responsabilidade, maturidade e independência.
Gostei e concordo com ela.
Escritor bom é escritor que escreve coisas boas embasado em suas idéias, não em suas imagens turvas.